By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: JORNAL CIÊNCIA – Imagem: Divulgação
A pesquisa é a primeira a alcançar tais resultados, após anos de
estudos sobre a relação da sexualidade com uma base biológica, nas
quais determinados genes poderiam estar ligados à homossexualidade.
Mas, devido ao grau elevado de precisão da pesquisa, muitos cientistas
estão desconfiando dos resultados, além dela não mostrar se uma criança
poderia ter sua opção sexual prevista. Embora os genes sejam
determinados no nascimento, agentes influenciadores poderiam afetá-los
ao longo do tempo, por conta de fatores ambientais ou presentes no
útero.
“Este é o primeiro exemplo de um modelo preditivo para a orientação sexual com base em marcadores moleculares”,
afirmou o Dr. Tuck Ngun, da Universidade da Califórnia, em Los
Angeles, EUA. Os gêmeos idênticos, geralmente - mas não sempre -, têm a
mesma sexualidade. Esta descoberta levou os cientistas a acreditar que
há um componente genético que possa definir ou não que alguém será
gay.
Para
identificar as áreas genéticas que estão ligadas a alguns homossexuais,
Ngun e sua equipe estudaram os genes de 47 pares de gêmeos idênticos
adultos do sexo masculino. O estudo envolveu 37 pares de gêmeos em que
um irmão era homossexual e outro heterossexual, e 10 pares em que ambos
eram homossexuais. Usando um programa de computador chamado ‘Fuzzy
Forest’, eles descobriram que nove pequenas regiões do código genético
desempenharam um papel chave na decisão de ser heterossexual ou
homossexual.
A pesquisa analisou um processo chamado 'metilação' do DNA, que tem
sido comparado a um interruptor, tornando um efeito mais forte ou mais
fraco. Este processo pode ser desencadeado por efeitos hormonais sobre o
crescimento do feto no útero. Embora gêmeos idênticos tenham
exatamente a mesma sequência genética, fatores ambientais podem causar
diferenças na forma como o seu DNA é metilado. Assim, ao estudar
gêmeos, os pesquisadores puderam controlar as diferenças genéticas e
destrinchar o efeito da metilação. Esta alteração do gene é conhecida
como um efeito 'epigenético’.
Os
pesquisadores, que estão prestes a apresentar as suas conclusões na
Reunião Anual da Sociedade Americana de Genética Humana de 2015, em
Baltimore, dizem ter encontrado padrões distintos de metilação no DNA
que parecem estar associados com a homossexualidade. “A
atração sexual é uma parte fundamental da vida, mas não é algo que
sabemos muito a níveis genéticos e moleculares. Espero que esta
pesquisa nos ajude a compreender melhor e saber mais sobre nós”, disse Ngun.
Os resultados, no entanto, não significam que os cientistas poderiam
prever a sexualidade de uma criança antes dela nascer, pois os testes
foram realizados em adultos. Ao identificar padrões genéticos distintos
que parecem desempenhar um papel determinante na opção sexual, isso
pode representar uma “tendência gay”. Um teste de previsão seria
altamente controverso, por levantar a possibilidade de cientistas
tentarem decidir o futuro sexual de bebês.
No entanto, alterações epigenéticas tendem a ocorrer no útero ou logo
após o nascimento devido à influência do meio ambiente. Eles também
podem ser transmitidos de acordo com o estilo de vida dos pais, de uma
pessoa e até mesmo seus avós. Mas, em uma possibilidade ainda bastante
controversa, as descobertas podem levar à alteração de sexualidade de
um indivíduo na vida adulta, modificando a metilação dos genes.
O professor Tim Spector, do Kings College London, na Inglaterra, um dos
maiores especialistas em estudos com gêmeos e genética, disse: "Sempre
foi um mistério saber por que os gêmeos idênticos que compartilham
todos os seus genes podem variar em homossexualidade. Diferenças
epigenéticas são óbvias e agora este estudo fornece evidência para
isso. No entanto, o pequeno estudo precisa ser replicado".
Darren Griffin, professor de genética na Universidade de Kent, é um pouco mais cético, por conta de tamanha precisão. “Reivindicar
um valor preditivo de 70 por cento de algo tão complexo como a
homossexualidade é ousado. Eu espero ansiosamente por um artigo
completo revisado. Embora haja uma forte evidência com base biológica
para a homossexualidade, a minha impressão pessoal sempre foi de
existir vários fatores contribuintes, incluindo experiências de vida”, disse.
Gay e ativista dos direitos humanos, Peter Tatchell, disse: "Esta
pesquisa afirma prever a orientação sexual com 'até' 70 por cento de
precisão. Isso não parece inteiramente convincente ou confiável. Mesmo
que os testes atinjam o máximo de 70 por cento de taxa de detecção, ele
ainda deixaria 30 por cento sem ser detectado. Qualquer tentativa de
explorar essa investigação para fins homofóbicos está fadada ao
fracasso. A homossexualidade existe em todas as sociedades e em todas
as eras. É parte do espectro natural da sexualidade humana", concluiu.
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