By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: SUPER INTERESSANTE – Imagem: Divulgação
Pacientes que lutam contra o câncer entraram em pânico quando descobriram que não poderiam mais ter acesso à fosfoetanolamina, uma substância supostamente anticancerígena, produzida por um professor Instituto de Química da USP de São Carlos.
A decisão foi tomada dia 28 pelo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), José Renato Nalini, que justificou o ato dizendo que "(...) não há nenhuma prova de que, em humanos, a substância reclamada, que não é um remédio, produza algum efeito no combate a doenças. Portanto, presentes os requisitos legais, o deferimento da suspensão é medida de prudência".
Para entender por que a medida gerou tanta insatisfação, é
preciso voltar um pouco no tempo. A ação da fosfoetanolamina em células
cancerosas é estudada desde o começo dos anos 90 pelo professor da USP,
Gilberto Orivaldo Chierice, hoje aposentado. Essa substância é
sintetizada naturalmente em algumas células do nosso corpo, como as do
fígado e dos músculos do bíceps, por exemplo. Até o ano de 2014, a
versão sintética da substância era distribuída gratuitamente para os
pacientes que buscavam um tratamento complementar ou alternativo. Seu
custo de produção é de aproximadamente R$ 0,10 por cápsula.
Entre os relatos dos usuários, constam curas sem cirurgia,
reduções drásticas dos tumores e melhora nas dores típicas do
tratamento. Alguns médicos chegaram a apoiar o uso do medicamento, mesmo
sem provas conclusivas de sua eficácia, acreditando que a melhora
venha do efeito placebo associado a um tratamento tradicional, como a
quimioterapia ou a radioterapia.
Em 2014, o Instituto de Química de São Carlos assinou uma portaria
proibindo a produção e distribuição de substâncias médicas e sanitárias
que não possuíssem os devidos registros e licenças. Como a
fosfoetanolamina não tinha registro na Anvisa, acabou sendo proibida. E
pacientes começaram a recorrer à Justiça para que o remédio fosse
liberado. A USP afirmou que não possui meios para produzir as cápsulas
em larga escala. Mas, por decisão de liminares judiciais, foi obrigada a
fabricar e fornecer a substância para mais de 360 pessoas entre meados
de 2014 e setembro de 2015.
A comunidade científica não reconhece a eficácia
da fosfoetanolamina contra o câncer. Há alguns estudos mostrando que a
substância está relacionada com a morte de células cancerosas, mas a Anvisa diz que, para obter o registro, é preciso apresentar análises clínicas detalhadas.
Supostamente, o mecanismo de ação da droga é o
seguinte: nas células cancerosas, as mitocôndrias têm a atividade
prejudicada. Isso acontece pela falta de ácidos graxos, que é justamente
o que a fosfoetanolamina fornece. Dessa forma, se o paciente de câncer
ingerir doses suplementares de fosfoetanolamina, em tese, as
mitocôndrias voltam a funcionar. Isso faz com que o sistema imunológico
seja alertado para a presença da célula cancerosa - e dispare o processo
de apoptose, ou morte celular. Ou seja, o próprio sistema de defesa do
organismo mata as células malignas.
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