quinta-feira, 6 de março de 2014

Campanha da Fraternidade aborda liberdade e dignidade



By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Edilson Kernicki (Rádio Najuá) Imagem: Divulgação

O início do período quaresmal no Brasil marca também o lançamento da Campanha da Fraternidade da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). Este ano, a CF traz como tema “Fraternidade e tráfico humano” e objetiva identificar essa prática em suas várias formas e denunciá-la como violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando aos cristãos e pessoas de boa vontade para erradicar este mal com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus.
O tema é bastante sensível à realidade da nossa região, onde no ano passado repercutiu nacional e internacionalmente um caso de tráfico humano, envolvendo inclusive crianças de São João do Triunfo, município próximo da região. Algumas denúncias de trabalho semi-escravo em carvoarias também já foram divulgadas na imprensa regional.
O padre Joel Nalepa, da Paróquia Santa Terezinha, em Ponta Grossa, foi convidado para explicar o sentido da Campanha da Fraternidade no Meio Dia em Notícias da última terça (4), véspera do lançamento nacional da CF 2014.
“O tema da CF está dentro das nossas casas, está muito próximo de nós e nos convida a tomarmos consciência, acima de tudo com relação ao valor da dignidade da pessoa humana. É o cuidado, o resgate e a valorização do ser humano enquanto filho e filha de Deus, que nós precisamos redescobrir. E, de modo especial, denunciar tudo aquilo que agride essa prática. Vai desde adoções ilegais ao trabalho de exploração escrava ou semi-escrava, tráfico em relação à questão da sexualidade também”, citou o padre.
O sacerdote atentou para o risco de que a vulnerabilidade social dos indivíduos pobres os exponha à exploração de seu trabalho, o que é uma prática ainda vista mesmo depois de 125 anos da Lei Áurea. Para o padre Joel, não basta uma lei para que não exista mais a escravidão. Segundo ele, nessas circunstâncias de vulnerabilidade, a pessoa pode ficar tão grata com qualquer oferta que se submete a trabalhar por um salário baixíssimo, com uma carga horária que às vezes ultrapassa o limite considerado digno para uma pessoa, ou seja, o subemprego.
“As pessoas aliciadas ficam tão agradecidas com aqueles que, num momento crucial de suas vidas, ofereceram ajuda, que nem têm coragem de denunciar, digamos assim, por exemplo, uma prática ilícita [de exploração]”, argumenta o padre Joel. Sem oportunidades concretas, muitas pessoas acabam iludidas com propostas de bons salários ou de carreira como modelos, o que as atrai para uma armadilha. “É um caminho que dificilmente tem volta depois, porque aqueles que são aliciadores fazem muito bem esta rede, digamos assim, de prática, e que dificulta muito a denúncia por parte daquele que é explorado”, comenta.
Estatísticas indicam que há pelo menos 2,5 milhões de pessoas traficadas em todo o mundo e que 43% delas são para exploração sexual; 32% para exploração econômica e 25% são para duas finalidades ao mesmo tempo. O padre enfatiza que a Campanha da Fraternidade busca elucidar que o ser humano não pode e não deve ser explorado como mero objeto de lucro ou de prazer. Ele considera este apelo urgente, às vésperas da Copa do Mundo, pois infelizmente o turismo sexual é uma imagem vendida do país no exterior e que acaba atraindo pessoas com fins escusos. “Acho que é importante a CF também para criar esta sensibilidade, inclusive, esta coragem de denúncia quando houver essas práticas ilícitas”, opina o sacerdote.
Segundo ele, o Carnaval também ajuda a corroborar essa imagem negativa e é preciso desfazer internacionalmente este conceito, “para que nós tenhamos a qualidade de um país que preserva os direitos e os valores de todas as pessoas. Tomara que a CF nos ajude nesse sentido”, afirma o padre Joel.
O debate sobre o tema da Campanha deve ser abordado não somente dentro das celebrações eucarísticas, mas ser estendido para a comunidade, até mesmo nas escolas. De acordo com o padre, foi até desenvolvido um material específico para ser tratado com os jovens. A própria catequese de adolescentes e jovens funciona como espaço para a formação nesse sentido.
“Tem várias frentes que se abrem, que não somente a Igreja. Mas a Igreja também espera a adesão de toda a sociedade organizada para que os grupos, os formadores de opinião e educadores também assumam este tema, porque não é apenas dimensão de fé, mas diz respeito à criação de uma cultura de paz, uma cultura de respeito à pessoa humana. E nós precisamos, todos juntos, abraçar essa causa. A Igreja puxa esse discurso porque encabeça a Campanha da Fraternidade, mas se espera também a adesão de toda a sociedade”, ressalta o padre.
Quaresma
A Igreja destaca que a quaresma não serve apenas como um momento de jejum e penitência, mas também se vale de gestos concretos em busca de conversão, para a vivência do mistério central de nossa fé cristã. “Podemos, sem dúvida, fazer muita coisa bonita em favor da vida e de uma sociedade cada vez melhor, mais justa, humana e solidária, tendo a pessoa humana a sua dignidade respeitada, não como objeto de lucro, de prazer ou de comércio, mas como filho e filha de Deus”, acredita o padre.
De acordo com ele, a quaresma convida à adesão e participação para que possamos vivenciar esse período em comunhão com a Igreja de todo mundo, na preparação para a Páscoa, este ano celebrada no dia 20 de abril. “É um período bastante importante, rico e profundo, onde temos três propostas: a esmola, o jejum e a oração. São exercícios de piedade, de reflexão, de conversão para melhor vivermos nossa fé”, explica.
É por isso que a CNBB aproveita esse momento, há 51 anos, para lançar esses apelos de cunho pastoral e com responsabilidade social, como é o caso da Campanha da Fraternidade deste ano, conforme o padre Joel. Funciona como um compromisso que o cristão assume, dentro e fora da Igreja, de promover um mundo melhor e mais justo.
O convite é para aderir, estudar, refletir e, de fato, se apropriar deste tema como propósito de vida, para que vivamos nossa dignidade cristã, como filhos e filha de Deus e ajudemos a resgatar as pessoas em situação de vulnerabilidade social, para que não caiam na armadilha do aliciamento e do tráfico humano.
Jejum, abstinência e penitência
O jejum é dos costumes mantidos pelos fiéis durante a quaresma, assim como a abstinência de carne vermelha, que acaba sendo substituída por peixe, em especial durante todas as quartas e sextas da quaresma. “Quando a quaresma nos propõe o jejum, a esmola e a oração é justamente para que nos sintamos pequenos, necessitados de Deus e também dos outros. Não é para passar fome. O jejum jamais é para fazermos essa experiência. Mas é para que possamos sentir também que não são só as coisas materiais e humanas que são importantes, mas a presença de Deus, esse Deus que nos sustenta e nos alimenta”, ressalta o sacerdote.
Conforme o padre, a esmola também não deve ser vista como alívio de consciência, mas uma prática de solidariedade, de entrega, de doação. Já a oração serve para que sintamos a grandeza do amor de Deus na vida de todos nós, enfatiza o padre Joel.
A Coleta Nacional da Solidariedade, como todos os anos, será realizada no Domingo de Ramos (13 de abril), quando os fiéis entregam os envelopes cuja arrecadação será destinada à CNBB, que reverte o dinheiro em prol da Campanha da Fraternidade e da causa nela defendida. Este é considerado o ato concreto, um sinal real de fraternidade, partilha e solidariedade.

OS COMENTÁRIOS NÃO SÃO DE RESPONSABILIDADES DO INTERVALO DA NOTICIAS. OS COMENTÁRIOS IRÃO PARA ANALISE E SÓ SERÃO PUBLICADOS SE TIVEREM OS NOMES COMPLETOS.
FOTOS PODERÃO SER USADAS MEDIANTE AUTORIZAÇÃO OU CITAR A FONTE

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.